O CINECLUBISMO NO ESPÍRITO SANTO.
O cineclubismo no Espírito Santo
vem em um intenso desenvolvimento desde o ano de 2003 que marca a rearticulação
nacional do movimento cineclubista no Brasil, após uma década de desarticulação
durante o período Pós Ditadura Militar.
Historicamente, o Cineclubismo
tem por base a formação de público para o cinema e a contraposição ao monopólio
de mercado, lutando pelo acesso a filmes considerados sem tela, ou em
específico, o acesso ao cinema nacional e o acesso ao cinema por outra estética
que não seja o tratamento do cinema como produto de consumo e não como cultura.
O Estado do Espírito Santo,
sempre teve uma atuação fundamental no desenvolvimento do audiovisual
brasileiro, seja através da participação do Estado no Movimento Cineclubista ou
na participação do Estado em outras Entidades, como a Associação Brasileira de
Documentaristas e Curta Metragistas.
No entanto, vamos discorrer aqui,
mais especificamente sobre o Cineclubismo.
Durante este processo de retomada
e rearticulação do Cineclubismo no Espírito Santo, é importante salientar que o
Estado já chegou a registrar mais de 30 cineclubes na década de 80, difundidos
em diversas regiões. Na própria Universidade Federal, chegamos a registrar mais
cinco cineclubes divididos em diversos Centros de Ensinos de variados cursos,
sendo o Cineclube Universitário o Centro Irradiador do Cineclubismo no Estado.
Hoje, após oito anos vivenciados
desde o ano de 2004 quando o Estado do Espírito Santo participou da 25ª Jornada
Nacional de Cineclubes realizada em São Paulo/SP e que marcou a rearticulação
do movimento, quando o Estado foi representando por nove cineclubes; notamos um
intenso e diversificado desenvolvimento do Cineclubismo no Estado do Espírito
Santo. Mesmo quando somente no Ano de 2010 conseguiu-se de fato, após várias
tentativas, dar um início a legitimidade de uma Entidade Estadual
Representativa do Movimento no ES.
Ainda, observamos alguns
parâmetros diferenciais entre o Movimento Cineclubista de hoje e o da década de
80. Na década de 80, até onde fomos capazes de nos aprofundar, a grande máxima
do Cineclubismo era a formação de público para o cinema, o acesso a filmes de
arte que não chegavam ao circuito exibidor, a contraposição a Ditadura e
Censura, e outros aspectos. Levando em conta, que desde que surgiu o movimento
no mundo, sempre foi voltado para a formação de público, para a democratização
do acesso ao cinema, e para o acesso aos filmes excluídos do monopólio
comercial.
Atualmente, percebemos uma
diversidade de cineclubes surgindo, dentro de suas diversas lutas e bandeiras,
ou mesmo, dentro de diversos e ricos gêneros. No Espírito Santo, os cineclubes
vão desde a exibição e debate sobre o meio ambiente, diversidade cultural,
educação, formação, até o debate com segmentos sociais, e ainda, cineclubes que
atuam na defesa e acesso ao cinema capixaba e que marcam a volta do cinema no
Bar.
A exemplo desta diversidade, o
Cineclube Eco Social que é um centro irradiador do Cineclubismo na Região
Noroeste, que teve suas atividades até o ano de 2008 voltadas para exibição de
filmes ambientais dentro do Parque Natural Municipal Recanto do Jacaré, no
município de Águia Branca. Atualmente, o Eco Social, atua na formação do olhar
através do audiovisual , dentro de uma escola estadual, tendo como público
direto adolescentes e jovens.
O Cineclube Colorado, que hoje
comemora três anos de existência, e vem cumprir o papel da retomada do Cinema
no Bar, realizando exibições e mostras de filmes, em no espaço do famoso Bar do
Pantera, em Campo Grande Cariacica. Estivemos a pouco, participando do 1º Curta
Colorado, uma mostra de Produções Independentes Capixabas que teve grande
destaque na mídia impressa do Estado.
O Cineclube Olho da Rua, uma ação
do Centro de Comunicação Popular Olho da Rua, uma turma de jovens atuantes em
diversas frente de luta e formação crítica, que desenvolve um trabalho de
formação social, humana e política. O Cineclube Olho da Rua, torna-se um
cineclube diferenciado, voltado diretamente a formação do ser humano e elencado
em diversas frentes, como o Fórum da “Não Violência as Mulheres”, Movimento
Negro, etc.
O Cineclube Lagoa, que atua na
Região Serrana, em Afonso Cláudio, mais especificamente, em um pequeno recanto
pomerano chamado de Lagoa ou Serra Pelada, através da Associação Diacônica
Luterana, possibilitando a democratização e o acesso não só ao cinema como as
novas tecnologias, atuando em conjunto com o Núcleo de Produção Audiovisual
Lagoa, realizando além da exibição de filmes a produção dos seus próprios
filmes junto com a comunidade local.
E há o ressurgimento de
Cineclubes mais antigos, como o Cineclube Guadala, que atua na democratização
do acesso ao cinema para a comunidade, o Cineclube Cinescam que atua com
exibição de filmes na Faculdade de Medicina Emescam.
Enfim, após o ano de 2012, quando
tivemos pela primeira vez após a rearticulação do Movimento Cineclubista no
Espírito Santo, de forma efetiva, um Edital específico voltado para Manutenção
dos Cineclubes e Formação de Agentes Cineclubistas, o movimento no Estado
começa a dar ascensão a sua organização enquanto movimento que pode vir a ser
um dos mais organizados e articulados do Estado, estando hoje, presente em
quase todas as Regiões do Estado, além de que, em quase todos os Municípios da
Região Metropolitana.
São diversos os desafios, mas
certamente este momento vivenciado tem sido rico, atuando para além do acesso
ao cinema, mas contribuindo de forma significativa ao desenvolvimento e
formação humana, através do audiovisual que é hoje estímulo presente em quase a
totalidade de nosso cotidiano incutido de seu poder indutivo, persuasivo e de
alienação.
O Cineclube então surge em
diversos espaços sociais e políticos, como um rico potencializador do diálogo e
da formação do olhar e do senso crítico, e deixa de ser apenas uma atividade
ligada diretamente ao cinema, mas que se propõe também como Movimento Social
Político; político no sentido de propor democraticamente debates sobre o
desenvolvimento social e humano. Sendo assim, este Cineclubismo passa a
contribuir na formação das futuras gerações e passa assumir novas bandeiras de
luta, que extrapolam os limites da exibição apenas.
Quando o diálogo hoje é algo que vem
se perdendo ou encontrando diversas complexidades, o Cineclubismo surge como
uma rica proposta ao encontro de ideias, fomento de ações sociais, debate sobre
diversas causas e lutas utilizando-se da projeção de filmes, espaço fundamental
do encontro de jovens que além de ver o cinema, querem hoje também se ver nas
telas, e além de se verem querem através das telas contribuírem a tantas lutas
que para além da diversidade, possam formar o cidadão.
Mais poeticamente, concluo, com
duas frases de dois grandes ícones do Cineclubismo capixaba, e por suas
histórias de militância e significante contribuição, também do Cineclubismo
Nacional e Internacional.
“Se é movimento é porque se movimenta, e se movimenta há que
transformar, e se transforma há que formar uma sociedade melhor.” (Claudino de
Jesus – Presidente da Federação Internacional de Cineclubes).
“Quem começou em um cineclube, não deixará de ser cineclubista jamais.
Participar de um cineclube é posicionar perante a vida.” (Orlando Bonfim,
Cineclubista e Cineasta).
Luciano Guimarães de Freitas.
Militante do Cineclubismo desde 2004.
Presidente do Cineclube Eco Social Águia Branca.
Articulador do Cineclubismo na Região Noroeste do ES.
Colaborador e Sócio Fundador de diversos cineclubes do ES.
Militante do Cineclubismo desde 2004.
Presidente do Cineclube Eco Social Águia Branca.
Articulador do Cineclubismo na Região Noroeste do ES.
Colaborador e Sócio Fundador de diversos cineclubes do ES.
Vitória
- ES, 03 de dezembro de 2012.
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