quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O CINECLUBISMO NO ESPÍRITO SANTO


O CINECLUBISMO NO ESPÍRITO SANTO.



O cineclubismo no Espírito Santo vem em um intenso desenvolvimento desde o ano de 2003 que marca a rearticulação nacional do movimento cineclubista no Brasil, após uma década de desarticulação durante o período Pós Ditadura Militar.

Historicamente, o Cineclubismo tem por base a formação de público para o cinema e a contraposição ao monopólio de mercado, lutando pelo acesso a filmes considerados sem tela, ou em específico, o acesso ao cinema nacional e o acesso ao cinema por outra estética que não seja o tratamento do cinema como produto de consumo e não como cultura.

O Estado do Espírito Santo, sempre teve uma atuação fundamental no desenvolvimento do audiovisual brasileiro, seja através da participação do Estado no Movimento Cineclubista ou na participação do Estado em outras Entidades, como a Associação Brasileira de Documentaristas e Curta Metragistas.

No entanto, vamos discorrer aqui, mais especificamente sobre o Cineclubismo.

Durante este processo de retomada e rearticulação do Cineclubismo no Espírito Santo, é importante salientar que o Estado já chegou a registrar mais de 30 cineclubes na década de 80, difundidos em diversas regiões. Na própria Universidade Federal, chegamos a registrar mais cinco cineclubes divididos em diversos Centros de Ensinos de variados cursos, sendo o Cineclube Universitário o Centro Irradiador do Cineclubismo no Estado.

Hoje, após oito anos vivenciados desde o ano de 2004 quando o Estado do Espírito Santo participou da 25ª Jornada Nacional de Cineclubes realizada em São Paulo/SP e que marcou a rearticulação do movimento, quando o Estado foi representando por nove cineclubes; notamos um intenso e diversificado desenvolvimento do Cineclubismo no Estado do Espírito Santo. Mesmo quando somente no Ano de 2010 conseguiu-se de fato, após várias tentativas, dar um início a legitimidade de uma Entidade Estadual Representativa do Movimento no ES.

Ainda, observamos alguns parâmetros diferenciais entre o Movimento Cineclubista de hoje e o da década de 80. Na década de 80, até onde fomos capazes de nos aprofundar, a grande máxima do Cineclubismo era a formação de público para o cinema, o acesso a filmes de arte que não chegavam ao circuito exibidor, a contraposição a Ditadura e Censura, e outros aspectos. Levando em conta, que desde que surgiu o movimento no mundo, sempre foi voltado para a formação de público, para a democratização do acesso ao cinema, e para o acesso aos filmes excluídos do monopólio comercial.

Atualmente, percebemos uma diversidade de cineclubes surgindo, dentro de suas diversas lutas e bandeiras, ou mesmo, dentro de diversos e ricos gêneros. No Espírito Santo, os cineclubes vão desde a exibição e debate sobre o meio ambiente, diversidade cultural, educação, formação, até o debate com segmentos sociais, e ainda, cineclubes que atuam na defesa e acesso ao cinema capixaba e que marcam a volta do cinema no Bar.

A exemplo desta diversidade, o Cineclube Eco Social que é um centro irradiador do Cineclubismo na Região Noroeste, que teve suas atividades até o ano de 2008 voltadas para exibição de filmes ambientais dentro do Parque Natural Municipal Recanto do Jacaré, no município de Águia Branca. Atualmente, o Eco Social, atua na formação do olhar através do audiovisual , dentro de uma escola estadual, tendo como público direto adolescentes e jovens.

O Cineclube Colorado, que hoje comemora três anos de existência, e vem cumprir o papel da retomada do Cinema no Bar, realizando exibições e mostras de filmes, em no espaço do famoso Bar do Pantera, em Campo Grande Cariacica. Estivemos a pouco, participando do 1º Curta Colorado, uma mostra de Produções Independentes Capixabas que teve grande destaque na mídia impressa do Estado.

O Cineclube Olho da Rua, uma ação do Centro de Comunicação Popular Olho da Rua, uma turma de jovens atuantes em diversas frente de luta e formação crítica, que desenvolve um trabalho de formação social, humana e política. O Cineclube Olho da Rua, torna-se um cineclube diferenciado, voltado diretamente a formação do ser humano e elencado em diversas frentes, como o Fórum da “Não Violência as Mulheres”, Movimento Negro, etc.

O Cineclube Lagoa, que atua na Região Serrana, em Afonso Cláudio, mais especificamente, em um pequeno recanto pomerano chamado de Lagoa ou Serra Pelada, através da Associação Diacônica Luterana, possibilitando a democratização e o acesso não só ao cinema como as novas tecnologias, atuando em conjunto com o Núcleo de Produção Audiovisual Lagoa, realizando além da exibição de filmes a produção dos seus próprios filmes junto com a comunidade local.

E há o ressurgimento de Cineclubes mais antigos, como o Cineclube Guadala, que atua na democratização do acesso ao cinema para a comunidade, o Cineclube Cinescam que atua com exibição de filmes na Faculdade de Medicina Emescam.

Enfim, após o ano de 2012, quando tivemos pela primeira vez após a rearticulação do Movimento Cineclubista no Espírito Santo, de forma efetiva, um Edital específico voltado para Manutenção dos Cineclubes e Formação de Agentes Cineclubistas, o movimento no Estado começa a dar ascensão a sua organização enquanto movimento que pode vir a ser um dos mais organizados e articulados do Estado, estando hoje, presente em quase todas as Regiões do Estado, além de que, em quase todos os Municípios da Região Metropolitana.

São diversos os desafios, mas certamente este momento vivenciado tem sido rico, atuando para além do acesso ao cinema, mas contribuindo de forma significativa ao desenvolvimento e formação humana, através do audiovisual que é hoje estímulo presente em quase a totalidade de nosso cotidiano incutido de seu poder indutivo, persuasivo e de alienação.

O Cineclube então surge em diversos espaços sociais e políticos, como um rico potencializador do diálogo e da formação do olhar e do senso crítico, e deixa de ser apenas uma atividade ligada diretamente ao cinema, mas que se propõe também como Movimento Social Político; político no sentido de propor democraticamente debates sobre o desenvolvimento social e humano. Sendo assim, este Cineclubismo passa a contribuir na formação das futuras gerações e passa assumir novas bandeiras de luta, que extrapolam os limites da exibição apenas.

Quando o diálogo hoje é algo que vem se perdendo ou encontrando diversas complexidades, o Cineclubismo surge como uma rica proposta ao encontro de ideias, fomento de ações sociais, debate sobre diversas causas e lutas utilizando-se da projeção de filmes, espaço fundamental do encontro de jovens que além de ver o cinema, querem hoje também se ver nas telas, e além de se verem querem através das telas contribuírem a tantas lutas que para além da diversidade, possam formar o cidadão.

Mais poeticamente, concluo, com duas frases de dois grandes ícones do Cineclubismo capixaba, e por suas histórias de militância e significante contribuição, também do Cineclubismo Nacional e Internacional.

“Se é movimento é porque se movimenta, e se movimenta há que transformar, e se transforma há que formar uma sociedade melhor.” (Claudino de Jesus – Presidente da Federação Internacional de Cineclubes).

“Quem começou em um cineclube, não deixará de ser cineclubista jamais. Participar de um cineclube é posicionar perante a vida.” (Orlando Bonfim, Cineclubista e Cineasta).

Luciano Guimarães de Freitas.
Militante do Cineclubismo desde 2004.
Presidente do Cineclube Eco Social Águia Branca.
Articulador do Cineclubismo na Região Noroeste do ES.
Colaborador e Sócio Fundador de diversos cineclubes do ES.



Vitória - ES, 03 de dezembro de 2012.

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