domingo, 18 de março de 2012

DO COTIDIANO AO CINECLUBISMO...

DO COTIDIANO À NASCENTE DO CINECLUBISMO.
Peculiaridades de minha vida comum.
Uma homenagem ao meu imensurável amigo, Antônio Claudino de Jesus.

É talvez mais um dia, apenas mais um dia na odisséia de minha vida. Queria dormir mais um pouco, ser envolto e estar preso pelo lençol à cama. Mas talvez eu seja mais um “ser programado” pela robótica rotina da sociedade humana.

Enfim, tomado pelo vírus de minha consciência levanto-me. Banhado da espada de meus delírios lúcidos e da certeza da transformação que eu vivo e a transformação e metamorfose cíclica que é a vida.

Meu caminho do apartamento até a banca de revistas é uma jornada em mais um dia na condição de meus pensamentos mortais. Adoro ler jornal, só não gosto tanto dos conteúdos que compõem o jornal. Mas ainda assim, sigo a jornada cíclica da vida.

Um bom dia ao porteiro, as belas pernas da mulher que passa por mim na calçada, o cachorro que tem o seu passeio matinal, o jornal e o vício de minha leitura

Eu me pergunto por que eu gosto de ler o jornal, se mudam os personagens, mas a trama é a mesma: violência, assalto, estrupo e violência sexual, hospitais lotados e promessas de um político que se acha um messias, mas têm a penitência de ser o diabo, pai da mentira, ou mesmo um falso profeta popular.

A salvação seria o caderno cultural, mas convenhamos que se a cultura é o resumo das novelas, nossa cultura anda em profunda decadência. Recorro aos filmes e suas sinopses, mas triste pela procura, raras vezes, consigo contemplar os filmes nacionais.

Da banca, sigo para a longa espera do ônibus coletivo, que carinhosamente chamo de “coletivo urbano”. Lá eu me encontro: ônibus lotado, o calor humano de um estresse extasiante.

O trânsito se entrelaça, devagar anda, é novo dia de um dia igual aos outros... O que transforma?
Transforma-me ver além dos uniformes das Empresas, marcas capitalistas que distinguem um trabalhador do outro. Transforma-me ver além da menina que prefere o MP3 a um bom papo.

Eu embarco na linha 507, Terminal de Laranjeiras ao Terminal do IBES, o trajeto é comum, o trânsito pela manhã nos parece uma tribulação profética, mas como todo ser temos nosso purgatório antes da redenção.

Chegamos a 3ª ponte, da capital do Espírito Santo, Município de Vitória, para a velha capital conhecida por Vila Velha; e como a transição do novo mundo para o velho mundo, é cheio de muitas histórias e lindas paisagens: o mar, o Convento da Penha, o porto, os catraieiros, os navios, tão logo sigo entregue aos ensejos e desejos da viagem.

Diante de tais maravilhas, destas lindas paisagens e representações, eu viajo por delírios e pensamentos inconstantes, não menos reais ou mais surreais.

Penso nas pessoas que um dia pensaram em se jogar da 3ª ponte no cumprimento do suicídio, talvez se conseguissem deixar de olhar “a dor e o sofrimento” e pudessem olhar a simplicidade das maravilhas entorno, amariam mais a vida. Verdade é que se não conseguem olhar as simples belezas e as raras paisagens que pairam em seus corações ou mesmo não conseguem caminhar pelos caminhos da emoção dentre de cada ser, dificilmente conseguirão olhar as graças e divinas de tais paisagens que os cercam.

A viagem continua, e após uma hora de romaria, enfim chego ao Terminal do Ibes.

Incrível é perceber; enquanto faço a minha jornada até o IBES, outras pessoas seguem sua matinal na contramão de meu sentido, constato que cada viagem é repleta do mesmo calor humano, mas ao mesmo, é tão diferente uma da outra e ainda mais complexa diante do ponto de vista de cada indivíduo. O que me confirma a tese de que nada é exato e tudo tem um ponto de princípio.

Eu desembarco e sigo minha odisséia matinal, me deparo com Jardim Guadalajara, e lá me recolho no recanto do cinema e do cineclubismo, lá estou na Rua Fernando de Noronha, envolto de pinturas, livros, retratos e claro, de muitos filmes.

Neste recanto, sou tomado pelo vírus incurável do cineclubismo, o desejo incessante de enxergar o mundo por outra estética que não seja esta robótica odisséia de consumo.

Posso dizer “que este recanto cineclubista para mim, está para uma nascente de rios cineclubistas, como o cineclubismo é a nascente principal do cinema brasileiro.”

Aqui, me deleito com as palavras, com os olhares, expressões, do fiel amigo Antônio Claudino de Jesus, queria defini-lo nesta crônica, mas a complexibilidade da mente humana é como a definição de “Claudino”.

Ele acorda, senta diante do computador, digita projetos, fomenta idéias em defesa do cinema e do audiovisual, em defesa do cinema de todos e para todos. Expõe idéias, conversa com os diversos setores do audiovisual, ouve, fala, escreve, debate e é debatido. Produz e recebe cultura.

Ao mesmo tempo, uma linda criança passa mal... E enquanto isso eu vou escrevendo esta crônica... Um carro buzina na rua, o cachorro late, o sobrinho liga, ele sai, conversa e aconselha e acolhe os amigos e a família, enfim a rotina grita, os delírios e sonhos resistem, e a vida segue. Ele sorri, toma café, conhaque, chora, sorri. Se alegra com a criança, divide a alegria com os amigos, aos mesmo que é capaz de sofrer cada sofrimento de cada amigo, é uma complexidade de dor e alegria, mas que resume no seu verdadeiro amor enquanto ser humano, sempre disposto a se doar.

Estar no recanto do Claudino, é assim... Uma pessoa que ama a todos e vive por todos, e ainda vive pelo cineclubismo. Um ser capaz de sorrir, de chorar, no entanto, é incapaz de não abraçar outro ser humano, um ser que tem sede de amar e necessita ser amado.

Clau é como uma daquelas paisagens quando viajamos para o interior, para as zonas rurais - sempre há uma imagem da pastagem e em meio ao pasto, uma árvore viva, que nos concede o sentimento de resistência, reflexão, solidão. Esta árvore resiste os furações da vida, ao desmatamento da esperança nos dias de hoje, esta árvore é sim, como Antônio Claudino de Jesus.

Assim como a árvore, Claudino é uma beleza rara. È um “jurássico” do cineclubismo e ao mesmo que é, fonte de inspiração, ao mesmo que renova suas forças e renasce como uma criança, em novas lutas e novas batalhas na missão de ser humano que é. Entendo e talvez seja até difícil compreender, que Clau é um destes seres iluminados, que nascem para doar sua vida em prol da humanidade.

Voltemos tão somente à casa do Claudino, estar aqui é saber que mesmo diante das adversidades desta odisséia robótica da vida, podemos ser felizes, sonhar e lutar por um ideal.

Aqui descubro que no filme da vida, em cada segundo e plano, seu roteiro é escrito a cada milésimo de segundo. Sendo modificado constantemente e continuamente.

Na certeza de que neste filme da vida, somos atores contracenando a existência, somos fotogramas e olhares que se refletem em imagens em movimento, e nos movimentamos na arte de sermos vida, na condição de sermos mais que humanos, sob a Direção de um universo maior e de um diretor maior que eu particularmente denomino com o nome supremo de DEUS.

Por Luciano Guimarães de Freitas
Poeta, Escritor
Militante do Cineclubismo desde 2004




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